A Invisibilidade da mulher com deficiência

#Marinalva Cruz

Nós mulheres representamos mais da metade da população brasileira e apresentamos escolaridade maior que os homens, mas ainda enfrentamos inúmeros obstáculos para ocupar posições de comando, essa dificuldade é ainda maior quando falamos de mulheres com algum tipo de deficiência.

O conceito de deficiência avançou ao longo do tempo, passou de um modelo estritamente médico para um modelo social e mais abrangente, que compreende a deficiência como resultado das limitações e estrutura do corpo, e a interação com as diferentes barreiras sociais e ambientais.

De acordo com a Lei 13.146, de 06 de julho de 2015, pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2010), mostram que 45,6 milhões de brasileiras e brasileiros tem algum tipo de deficiência e deste total, 25,8 milhões são mulheres.

Ainda com base no censo do IBGE de 2010, no Estado de São Paulo, mais de 3 milhões de pessoas informaram ter um comprometimento mais significativo em razão da deficiência (física, auditiva, visual, intelectual ou mental/psicossocial) e das inúmeras barreiras existentes na sociedade. As mulheres representam 56,86% deste universo, são a maioria, mas, continuam na invisibilidade.

Trabalhar é um direito de todas as pessoas e não apenas de um grupo específico da população, está garantido na Constituição Federal de 1988, mas continua não sendo uma realidade na vida de muitas brasileiras, com e sem deficiência.

Os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS-2019), apontam que do total de vínculos empregatícios da população com deficiência do Estado de São Paulo, 61,69% são ocupados por homens e apenas 38,31% por mulheres.

Percebemos avanços no processo de inclusão da população com deficiência, porém, ainda há um caminho muito longo, principalmente quando tratamos de protagonismo e representatividade em cargos de alta liderança, no setor público e privado.

Um estudo realizado em 2016 pelo Instituto Ethos com as 500 maiores empresas do Brasil, aponta que apenas 0,6% das pessoas com deficiência ocupam cargos de nível executivo e, lamentavelmente em nenhum desses cargos há mulheres com deficiência.

No setor público, é possível perceber que a maioria absoluta dos governantes, em todas as esferas de governo, nomeiam mais homens que mulheres, para ocuparem os principais cargos da administração pública e são raríssimas as nomeações de mulheres com deficiência, especialmente para posições de destaque.

O mercado precisa entender que garantir igualdade de oportunidade, é permitir que todas as pessoas, com as mais diversas características, tenham condições de desempenhar suas atividades, serem igualmente reconhecidas e remuneradas e possam ocupar diferentes posições em todos os níveis hierárquicos.

Se olharmos para os marcadores sociais, iremos perceber que a mulher com deficiência é ainda mais excluída, tem mais dificuldade de ocupar cargos de poder, ser eleita ou ter voz ativa. Isso ocorre devido à exclusão histórica das mulheres e a existência das barreiras físicas, comunicacionais, tecnológicas e atitudinais, presentes na sociedade.

A falta de representatividade da mulher com deficiência, aumenta a invisibilidade, gera consequências perceptíveis no desenvolvimento de políticas públicas, crescimento econômico e execução de projetos, especialmente relacionados ao universo feminino, a diversidade, acessibilidade e inclusão, social e profissional.

Ações afirmativas, como a da Lei de cotas (8.213/91), por exemplo, são imprescindíveis, porém, a forma como são conduzidas, ainda não garantem a plena participação de todas as mulheres com deficiência e para mudar esse cenário, precisamos de uma política mais ativa, que os políticos, os partidos e o Estado se comprometam de fato com uma agenda mais igualitária, que haja mais investimento no processo de educação, que a atuação seja transversal, a comunicação mais empática, inclusiva e acessível e que o respeito a diversidade humana, o combate ao capacitismo e ao machismo, seja uma prática diária.

Gestora em Recursos Humanos, consultora especializada em inclusão profissional de pessoas com deficiência e palestrante em feiras, fóruns, seminários e eventos, com foco na acessibilidade, diversidade e inclusão de pessoas com deficiência.

Graduada em Gestão de Recursos Humanos pelo Centro Universitário Sant’Anna (Uni Sant’Anna) e pós-graduada em Gestão Pública pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

Foi Secretária Adjunta da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência da Cidade de São Paulo, no período de janeiro de 2017 a março de 2021 e Coordenadora de Projetos Sociais, responsável pelo Programa de Apoio à Pessoa com Deficiência (PADEF) da Secretaria Estadual do Emprego e Relações do Trabalho (SERT), onde atuou por quase 14 anos, desenvolvendo ações com foco na acessibilidade, diversidade e inclusão, social e profissional de pessoas com e sem deficiência.

É membro do Comitê Diversidade da ABPRH, conselheira de ética da ABO/SP, líder do Comitê Inclusão da Pessoa com Deficiência do Grupo Mulheres do Brasil, conselheira da Specialisterne Brasil, membro da Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa com Deficiência, voluntária do Espaço da Cidadania e seus parceiros pela inclusão e do Fórum Anual “Diversidade e Inclusão” da ABRH São Paulo.

#PraTodosVerem: Foto em fundo branco e Marinalva em close. Ela sorri, tem pele branca, cabelos lisos com mechas prateadas, altura dos ombros. Veste blusa preta e blazer branco com listas pretas, mangas na metade dos braços, usa colar rente ao pescoço. Está com o braço direito em frente ao corpo e mão apoia o braço esquerdo que está levantado com a mão esquerda apoiando levemente seu queixo.

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